domingo, 30 de dezembro de 2012

Entrevista com Roberto Cláudio – Via Diário do Nordeste

´A Cidade não tem dinheiro para as contrapartidas´
Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, o próximo gestor da Capital cearense fala sobre a economia, as finanças e o planejamento do Município

Fortaleza é, hoje, a quinta capital do País em população e a de maior densidade demográfica do Brasil. Além disso, passou por uma intensa conurbação ao longo dos anos, quando muitos dos serviços públicos são utilizados não só por seus moradores, como por parte significativa da população de outros municípios, a exemplo do que ocorre com escolas e do IJF. Como garantir, assim, recursos para atender a toda a demanda? O orçamento aprovado na Câmara para 2013 é suficiente para os seus projetos?
Todo gestor sempre acha que o orçamento previsto é insuficiente e eu logicamente vou buscar mais recursos. Fortaleza é muito grande, é diversa, tem muitos desafios e ninguém vai resolvê-los da noite para o dia. Certamente, todo recurso é muito pouco para quem quer fazer com rapidez, mas há recursos em montante razoável para a gente começar um processo de reorganização da Cidade. Pensar uma nova lógica de mobilidade urbana e de transporte coletivo, por exemplo. A Cidade é densa, mas sem esse planejamento. As pessoas vivem em um local, mas não vão a escola, usam o hospital ou não trabalham ali. Então ela precisa passar por uma nova lógica e que a gente descentralize mais a sua economia, as oportunidades de emprego e renda, os serviços públicos mais básicos, assim como os equipamentos de cultura e lazer. Isso tende a criar um sentimento de vida comunitária. As grandes cidades do mundo acharam essa fórmula. Passaram a planejá-las em pequenas cidades e isso se faz com a indução do poder público, estimulando por redução tributária a economia nesses locais e instalando equipamentos nas áreas mais pobres e mais isoladas. Mas primeiro temos que fazer o dever de casa. Fazer economia e gastar bem com as prioridades certas. Depois, quando se tem dinheiro em caixa, para as contrapartidas, fica mais fácil buscar financiamentos no exterior, nos bancos de investimento. O problema de Fortaleza hoje é exatamente esse: a Cidade não tem dinheiro para arcar com essas contrapartidas.
 
 
Então, o senhor pensa em reforçar as operações de crédito do Município com organismos internacionais para garantir novas obras, a exemplo do governo estadual?
Sem dúvida. Tendo essas contrapartidas, ou seja, uma certa poupança, aí sim isso vai nos permitir buscar recursos em bancos nacionais e internacionais, possibilitando alavancar a capacidade de investimento de Fortaleza.
 
 
Falando em recursos, a dependência de Fortaleza de transferência intergovernamentais vem se ampliando ao longo dos anos. O que o senhor pensa em fazer para aumentar a base de arrecadação e assim gerar mais poupança?
Existem diversas maneiras sem que se precise, necessariamente, mexer em alíquotas dos tributos. Aumentar a eficiência da máquina arrecadatória, cobrando a dívida ativa do Município, por exemplo, é uma delas, que estima-se, hoje, que chegue a mais de R$ 4 bilhões. É cobrar com mais eficiência os impostos. Há uma série de sistemas de informação hoje, que dão uma capacidade maior e melhor de controlar esse processo. Então, há uma margem grande para que a gente possa buscar mais justiça e eficiência na arrecadação sem ter que mexer em alíquotas.
 
 
Inclusive, há muitos anos se fala na atualização da Planta Genérica de Valores Imobiliários (PGVI). Os valores cobrados do IPTU, atualmente, não correspondem aos valores venais dos imóveis. O senhor pensa em fazer essa atualização em sua gestão?
Iremos abrir essa discussão com Câmara de Vereadores ao longo do próximo ano. Há um grande fosso e até por questão de justiça e respeito á população temos que começar.
 
 
Ao mesmo tempo, como o senhor imagina resolver a questão da ocupação do Centro? A informalidade se expandiu sobremaneira na região, em especial na rua José Avelino e adjacências. O senhor vai retirar a feira que existe lá? Para onde o senhor pensa em levar estes ambulantes?
Escolhi um secretário para regional do Centro com perfil executivo, mas que também tem formação política, habilidade, e é bom de diálogo e de decisão. É ele que irá liderar esse processo. Não se faz um Centro produtivo, organizado, sem que todos participem desse planejamento. O que eu orientei ao Régis Dias foi que ele chamasse todos os ambulantes, que são trabalhadores dignos, para o diálogo, a fim de buscar soluções para um problema que é deles também. Eles estão ocupando aquele espaço certamente porque não lhes foi dada a oportunidade de um outro espaço, porque os compromissos estabelecidos não foram cumpridos. Então, é importante que sejam definidos novos locais e que os acordos sejam cumpridos. Não tenho dúvidas de que eles toparão. Conversei com muitos a respeito disso. Assim, é preciso que sejam estabelecidos prazos para que os espaços públicos voltem a ser espaços públicos, para que os ambulantes tenham locais dignos para trabalhar e para que a Cidade possa ter no Centro um local muito mais confortável, prazeroso, histórico, inclusive, para a convivência familiar.
 
 
Na nomeação de secretários, o senhor anunciou a criação de uma agência de desenvolvimento econômico, nos moldes da Adece, do governo estadual. Como será a sua atuação?
A primeira tarefa que dei ao secretário de Desenvolvimento Econômico foi já conceber a agência. É claro que há nuances diferenciadas. O perfil da economia do Ceará é um pouco diferente das cidades, então ela deve priorizar e fomentar muito os micros e pequenos negócios, estimular os parques tecnológicos, a economia limpa, ou seja, de serviços, envolvendo o turismo, enfim estimular a vocação natural, típica de cidades costeiras.
 
 
Mais de 70% das riquezas produzidas na Cidade vêm da área de comércio e serviços, englobando aí a atividade turística. O senhor pensa em focar neste setor, ou pretende reforçar mais a atividade industrial da Cidade?
Nós precisamos de emprego. Isso deverá ser uma prioridade. E claro que nós vamos buscar sempre o aquecimento das vocações já existentes como o comércio, os serviços e o turismo. Porém, ao mesmo tempo, não vamos deixar de procurar indústrias que possam ser instaladas em parques tecnológicos, principalmente em áreas degradadas da Cidade, como a Francisco Sá, que tem grandes terrenos e áreas desativadas.
 
 
O senhor contará com um novo órgão em sua gestão, o Iplanfor. Como o senhor pensa que este órgão deverá atuar no sentido de garantir o desenvolvimento econômico da Cidade no curto e também longo prazo?
O pensamento da Cidade tem que caber ali. O Iplanfor deverá mobilizar a opinião pública de Fortaleza. Deverá ter técnicos de alta qualidade e integrar as diferentes dimensões do que seja o planejamento de uma cidade, ou seja, a questão urbanística do espaço territorial, econômica e a questão social. Enfim, é planejar a cidade por inteiro, integrar esse planejamento de longo prazo, ouvindo as pessoas, com bons técnicos, apresentando estudos, orientando inclusive algumas ações já de curto prazo da nossa gestão. Ele será um órgão muito importante na nossa atuação e inclusive o seu presidente coordenou o meu plano de governo, e coordena agora a minha equipe de transição, e essa pasta estará instalada junto comigo no Palácio do Bispo para que a tarefa de planejamento caminhe de mãos dadas com a tarefa de executar.
 
 
ANCHIETA DANTAS JR.
REPÓRTER

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